segunda-feira, 29 de agosto de 2022

BETO GUILHERME - E POR FALAR EM SAMBA...

                                                             UM GRANDE ARTISTA


 "Túmulo do Samba". 

A alcunha foi dada a São Paulo por Vinicius de Moraes, provavelmente num de seus momentos etílicos e numa rara infelicidade do grande poeta. 

Beto Guilherme, lídimo representante do samba paulista, desmente o vaticínio de Vinicius, ao fazer nascer canções maravilhosas, cujas letras são populares, sem cair na armadilha do popularesco, algo tão comum a pessoas ávidas pelo sucesso e sem compromisso com a Língua. Não é o caso de Beto, certamente, cioso da relevância do idioma.

Beto compõe com linguagem acessível, porém com qualidade e sem reparos linguísticos. Não há pedantismo nem arroubos intelectuais, inacessíveis ao grande público. Tampouco há chagas mortais (para a língua) em seus versos, à procura da aprovação fácil. 

Reside aí uma grande qualidade do autor: não fere a Bela e Inculta. Ao mesmo tempo, pede licença à Língua para desobedecer a ênclise, em algumas músicas, como fez Oswald em "Pronominais"*.

Não é fácil unir o erudito ao popular, mas Beto faz uso exato dos dois estilos de linguagem. É importante ressaltar que o compositor tem um conhecimento muito bom do vernáculo, o que possibilita a ele elaborar textos perto da perfeição. Não é por ignorância, portanto, que o sambista escreve de maneira simples. Sua mensagem e sua poesia devem alcançar o público, mas ele não assassina a gramática nem a sintaxe para que isso aconteça. 

Por conhecer profundamente seu idioma, Beto Guilherme tem permissão para inverter pronomes, reduzir palavras e criar termos que contribuem para a beleza das suas letras...

Nissimiel

 * Referência a Oswald de Andrade em Pronominais, obra em que "desobedece" a ordem dos pronomes e usa próclise no lugar da ênclise.

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